segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Princesas na minha rotina




A rotina, às vezes, cansa, cega, entristece, mecaniza. Tão mecânico ou mais quanto o motor de um ônibus. Tão mecânico ou mais quanto a volta para casa de ônibus. Mas, algumas vezes, por trás de olhos de janelas urbanas, dá para (re)conhecer algumas flores que brotam do cimento.

Um dessas flores eu (re)conheci esta tarde, na minha rotina mecânica. Descrevê-la em seu uniforme azul, com seus cabelos presos em um laço também azul e os brincos vermelhos é algo quase impossível. É que princesa assim é indescritível. Sempre tem um detalhe que a gente deixa de lado.

Essa princesa sempre esteve na minha rotina. Mas, acho que desta vez, minha janela estava mais aberta. Enfim, não sei. Só sei que nesta tarde ela me encantou.

Ela tinha cerca de oito anos e entrou com seus pezinhos de princesa dentro da minha rotina.
Uma das mãos agarrava as mãos de um senhor (talvez seu pai, talvez seu tio, talvez seu avô. Não importa), a outra segurava um pedaço de capim. A princípio, cheguei a acreditar que o capim era para os cavalos brancos que passaram a puxar o ônibus quando ela entrou na minha rotina. Mas, logo, ela disse ao senhor: "Segura a minha flor."

O capim era flor! E ela era princesa. E o ônibus era puxado por cavalos brancos.
Dentro da minha rotina mecânica ela colocou seus pezinhos de princesa, brincos vermelhos e cavalos brancos.

Com esses mesmos pezinhos, ela fez algo que me encantou. Algo que eu (re)conheci em algum mar meu e que me veio como uma onda de saudades. A princesa subiu nos bancos do ônibus e deixou que o vento a despenteasse.
Laço desfeito, pés no banco, despreocupação... Ainda assim, ela era princesa dessas das mais finas.

Ponto marcado. Rotina. Ela olhou, desceu do banco, desceu do ônibus e foi embora com sua flor. Ela me deixou assim: sozinha, na rotina.
Mas, dessa vez, eu era carregada por cavalos brancos no vento de mar da saudade.

Um dia, na minha rotina, vou me aproximar dessa princesa. Antes que ela cresça e esses cavalos brancos que cavalgam nesse azul amargo desapareçam.

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