segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Oportunidades

Eu vim (primeiramente) agradecer.
Não. Não vim agradecer aos amigos, aos familiares e muito menos vim agradecer a Deus.
Vim, publicamente, agradecer a oportunidade.
Vim agradecer a oportunidade de ser filha, de ser amiga, de ser amada. Quero agradecer a oportunidade de ter pés, mãos, pensamentos e de poder usar tudo o que tenho ao meu favor. Vim agradecer por ter casa, cama, roupa lavada, palavras no vocabulário. Vim agradecer a oportunidade de andar e sentir o vento no rosto, de gargalhar e sentir o estômago doer, de chorar e sentir as lágrimas escorrerem. Vim agradecer a oportunidade de ter encontrado na minha vida todos aqueles que sabem, seja com olhares, com beijos, com palavras ou com sorrisos, fazer com que eu me sinta mais viva. Vim agradecer a oportunidade de ser simples e de amar a simplicidade no olhar e nos detalhes dos outros.

Mas, vim também pedir.
Não. Não vim pedir aos amigos, aos familiares e muito menos vim pedir a Deus.
Vim, publicamente, pedir a oportunidade.
Vim pedir a oportunidade de errar, de odiar, de fugir de mim. Vim pedir a oportunidade de não querer, de fazer pirraça, de não me importar. Vim pedir para não me importar mais, para não ter preocupações e nem tempo certo. Vim pedir a oportunidade de ser entendida e não julgada. Vim pedir a oportunidade de não perdoar, ou de perdoar sem nem mesmo saber quais foram os erros. Vim pedir a oportunidade (com ou sem crase) de não sorrir quando não quiser e, vim também, pedir a oportunidade de não querer.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

À flor do ar.

Eu nasci através do deslocamento de massas de ar dos meus pais. Minha mãe, uma doce, linda e suave Brisa e meu pai, um forte, destemido e raivoso Furacão, constratavam personalidades e faziam de mim todos os seus sonhos.

Eu, o Vento, nunca quis desapontá-los, mas era complicado responder a tantos sonhos. Meu pai queria que eu fosse tão forte quanto ele. Minha mãe queria que eu fosse tão doce quanto ela. Nasci dando desgosto ao Furacão. Era um vento fraco, não soprava mais do que 20 km/h. Porém, cresci e acabei me transformando e um vento forte, não tanto quanto o meu pai, mas os meus sopros chegavam a atingir 40 km/h. Encontrei a paz entre os meus pais, eles admiravam o contraste deles feitos em mim.

Quando jovem, encontrei também o amor da minha vida. Certo dia, ventando por entre as casas reparei em uma janela de vidro que estava fechada. Havia mesmo encontrado o amor da minha vida através de uma janela. Ela era uma moça linda! De longe, parecia tão delicada quanto a minha mãe, suas cores fortes e vibrantes e toda aquela luz que saia dela para iluminar a casa me deixaram estonteado, era a Chama de um fogo sobre uma vela.

Esperei com os sentimentos à flor do ar e, depois de um certo tempo, abriram a janela! A alegria tomou conta de mim e ventei loucamente para os braços de minha amada. Porém, algo terrível aconteceu: a força da rajada de meus ventos apagou a doce Chama e eu nunca mais a vi. Até hoje, vago pelas janelas urbanas à procura de um amor impossível.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Interpretando almas.

O ensino tem uma mania a qual eu, particulamente, discordo. Provas de português e literatura são uma salvação para minha mania interior de achar que não tenho talentos, porém, há algo errado no que insistem em nos ensinar: a interpretação.

Ensinar interpretação é como ensinar os segredos da alma de alguém que você nunca viu. É impossível. Não há uma única interpretação para um poema ou, até mesmo, para um texto em prosa. Somente e exclusivamente o próprio autor pode dizer o que queria dizer.
Quem somos nós para dizer que Vinícus de Moraes falava de paixão quando criou os versos da música "Pela luz do olhos teus"? Só ele pode afirmar o que ele queria dizer com palavras que, para nós, representam puro e sincero amor. Ou, talvez, para alguns de nós, nem represente amor. Os versos podem, sem medo, representarem dor. Tudo depende da alma de quem lê, como também depende da alma de quem escreve.

Quando sou convidada a fazer uma interpretação de texto em cima de uma obra que não é minha, procuro pensar no que o autor das questões queria que eu interpretasse e não naquilo que eu enxergo ou naquilo que o escritor sentia. Sentimentos não são interpretados e não há palavra que consiga dissipá-los. Só o dono do sentimento pode sentí-lo, mais ninguém.

Acredito que se algum excelente, aclamado, sábio e culto, professor de literatura proposse uma prova para Carlos Drummond de Andrade sobre os seus próprio poemas, o grande poeta erraria a grande maioria das questões. O autor da prova, mesmo sendo um grande literário, não era o autor daqueles poemas e, portanto, não sabia nem a metade dos sentimentos da alma daquele poeta.

Sendo assim, sugiro ao ensino que não imponha aos seus alunos a interpretação da alma de alguém, mas sim da sua própria alma. Conhecer a si mesmo é mais necessário. Ou, ao menos, não aprisionem uma única interpretação para uma alma que é livre. E, acredito, que os poetas ficarão gratos em não ter mais seus sentimentos julgados por quem não sabe ler nem mesmo a sua própria alma e quem dirá, a alma alheia.

domingo, 8 de agosto de 2010

-Você precisa ter tempo -Quem faz vestibular precisa estudar pelo menos duas horas por dia, todos os dias -Não existe essa de não ter tempo -Esse trabalho é para sexta feira -Você não faz cursinho, tem tempo para fazer o trabalho -Para de lavar cabeça de madrugada! -Ninguém mandou você dormir -Escola é o de menos agora -Você precisa dar orgulho aos seus pais -Eu gostava mais de você antes -Faça uma produção por dia -Faça cursinho -Não faça cursinho -Fazer o quê? Você tem que estudar -Você está perdendo o seu tempo -Você sabia que seria difícil -Nada nessa vida é de graça -Nada é fácil -Mas o vestibular não vai te dar tempo para pensar -Viaje menos -Shiii -Silêncio -Trabalho -Quando você passar no vestibular -Você não vai viajar, tem que estudar -Você não era assim -Despertador aos sábados -Já leu os livros do vestibular? -Já passou da hora de você crescer -Amadureça! -Prova amanhã -Quinzenal amanhã -Aula de tarde -Anotem na agenda -Refaça as contas -Faça as listas -Entregue em dia -Data -Anotem -Paguem -Trabalhe -Não durma -Não esqueça a carteirinha -Perca o primeiro horário -Não entre para o senso comum -Não coma -Coma! -Não sente em frente a escola -Lave as vasilhas -Arrume seu quarto -Melhore suas notas -Você pode fazer mais -Ria -Fique feliz -Volte a sair com a gente -Dê explicações -Dê sinal de vida -Não vá de ônibus -Vá de ônibus -Tenha metas -Escolha sua profissão -Escolha o que vai ser -Seja alguém -Seja melhor -Seja inteligente -Seja culta -Aprenda -Engula -Leia -Volte a conversar comigo -Você não é mais a mesma -Você mudou -A culpa não é sua -A culpa é sua -Saia -Não saia -Não volte tarde -Não saia cedo -Não saia tarde -Não respire -Não viva -Não! -Sim! -Vestibular -Escola -Casa -Profissão -Pressão
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Eu posso enloquecer agora?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Futuro vinil.


Ontem li uma reportagem da Época que falava sobre coisas antigas que viraram moda hoje em dia. O fato de as pessoas voltarem a ouvir vinil e terem total exigência quanto a essa espécie, ou as câmeras de filme que nunca se sabe ao certo se funcionarão ou não são alguns dos exemplos citados na reportagem.
Eu concordo plenamente que todas essas antiguidades têm um certo charme. Sair por aí carregando uma máquina fotofráfica que poderia ter fotografado Marilyn Monroe dá um quê de sedução.
Mas, eu aceito ser taxada pelos mais velhos de "Juventude moderna". Afinal, somos mesmo da época do CD, do mp3, do nitendo Wii, não somos?
O máximo que pegamos de relíquias foi a fita cassete. Depois disso, mudamos de mp3 para ipod.
E tenho certeza de que, na época dos nossos filhos, ou netos (para os que forem tê-los, lógico) o CD será um charme dos grandes. Tal qual uma máquina fotográfica com um flash de barulho real e não parte da sedução criada pelos apreciadores de antiguidades.