sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Interpretando almas.

O ensino tem uma mania a qual eu, particulamente, discordo. Provas de português e literatura são uma salvação para minha mania interior de achar que não tenho talentos, porém, há algo errado no que insistem em nos ensinar: a interpretação.

Ensinar interpretação é como ensinar os segredos da alma de alguém que você nunca viu. É impossível. Não há uma única interpretação para um poema ou, até mesmo, para um texto em prosa. Somente e exclusivamente o próprio autor pode dizer o que queria dizer.
Quem somos nós para dizer que Vinícus de Moraes falava de paixão quando criou os versos da música "Pela luz do olhos teus"? Só ele pode afirmar o que ele queria dizer com palavras que, para nós, representam puro e sincero amor. Ou, talvez, para alguns de nós, nem represente amor. Os versos podem, sem medo, representarem dor. Tudo depende da alma de quem lê, como também depende da alma de quem escreve.

Quando sou convidada a fazer uma interpretação de texto em cima de uma obra que não é minha, procuro pensar no que o autor das questões queria que eu interpretasse e não naquilo que eu enxergo ou naquilo que o escritor sentia. Sentimentos não são interpretados e não há palavra que consiga dissipá-los. Só o dono do sentimento pode sentí-lo, mais ninguém.

Acredito que se algum excelente, aclamado, sábio e culto, professor de literatura proposse uma prova para Carlos Drummond de Andrade sobre os seus próprio poemas, o grande poeta erraria a grande maioria das questões. O autor da prova, mesmo sendo um grande literário, não era o autor daqueles poemas e, portanto, não sabia nem a metade dos sentimentos da alma daquele poeta.

Sendo assim, sugiro ao ensino que não imponha aos seus alunos a interpretação da alma de alguém, mas sim da sua própria alma. Conhecer a si mesmo é mais necessário. Ou, ao menos, não aprisionem uma única interpretação para uma alma que é livre. E, acredito, que os poetas ficarão gratos em não ter mais seus sentimentos julgados por quem não sabe ler nem mesmo a sua própria alma e quem dirá, a alma alheia.

Um comentário:

  1. Oi Kimie, gostei muito do seu blog e do seu post, eu realmente gosto de sentir a alma do texto, mas uma vez vi uma entrevista com o Djavan, que é um artista cheio de alma no que faz e interpreta, eu realmente achava que tudo o que ele fazia carregava muito sentimento, mas na entrevista ele disse que compõe as músicas tipo pra completar um CD e não por estar vivendo com intensidade aquilo. Isso me fez pensar nisso que vc escreveu agora, quem o vê cantando não diz isso! Bom é por isso que é artista não é!!
    Quando puder visite meu blog, é bem diferente do seu! Mas gostaria de saber sua opinião!
    Beijos!!

    ResponderExcluir