sábado, 30 de abril de 2011

Cresci


Eu nunca compreendi muito bem qual era a fixação dela por mim.
Eu era o tipo de criança que andava olhando para cima. Fazia isso para conseguir entender o céu. É porque eu não conseguia entender o motivo dela me seguir sempre que eu dava um passo novo.
E eu era criança. Criança dessas que quer entender o céu e, a cada passo, acaba dando sempre um passo novo.

Foi em uma noite dessas de família reunida que eu decidi que iria despistar a lua. Queria que ela parasse de me seguir. Queria que ela fosse andar em novos rumos e me deixasse dar meus passos sozinha.
Comecei dando passos pequenos, como quem não quer nada. Aumentei meus passo, aumentei a frequência deles e, quando dei por mim, já estava correndo o mais rápido que conseguia.
Safira, uma dessas primas que a gente tem e que não sabe onde foi parar, parou naquele dia ao meu lado enquanto eu descansava da correria.
- O que você está fazendo?
- Tentando despistar a lua.
- Posso te ajudar?
Não. Sai daqui. Pensei.
Depois, pensei melhor.
- Sim. Vem aqui.
Expliquei - ou pelo menos tentei explicar - para Safira todo o meu problema com aquela bola pequena que ficava no céu e no céu me seguia. Ela vinha para o céu quando o dia ficava escuro e nossa mãe o chamava de "noite". "Vem para dentro da casa, menina, já está de noite", ela dizia.
Se Safira entendeu, eu já não sei. Sei que ela topou me ajudar, sem pensar duas vezes.
Pensei e tramei assim: Correríamos juntas a princípio, enquanto a lua nos seguia. Logo, o mais rápido que pudéssemos, correríamos para lados opostos. Eu tinha a certeza mais que absolutamente certa de que a lua não saberia para onde seguir e desistiria dos meus passos.
E assim fizemos.
- Vai, Safira! - era o sinal para que ela corresse para o lado oposto.
E safira correu. Mas não deu certo. A luz estava lá, forte, olhando para mim. Vitoriosa.
- Deu certo!! - berrou a Safira do outro lado - A lua está me seguindo!
Certo? Como assim deu certo?


Foi aí que eu percebi que eu nunca quis que a lua deixasse de me seguir.
Ela era minha e fazia parte dos meus passos. Descobrir que ela não seguia só a mim acabou apodrecendo um pouco a minha pele.
Não quero cair da árvore. Crescer é assim, apodrecer e ir caindo ao poucos da árvore.

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