terça-feira, 25 de outubro de 2011

Enzimando cores



Se eu fosse cega, iria querer provar tudo. Colocar tudo na boca e a boca em tudo.
Passar a língua, engolir, enzimar, digerir. O gosto das coisas na cegueira.

Se eu fosse cega, iria querer, com o paladar, sentir todas as cores. Experimentar o claro, o escuro.

Sabor de azul na cegueira, sabor de vento.
Sabor de branco na cegueira, sabor de algodão.
Sabor de cinza na cegueira, sabor de poeira.

Na minha cegueira de estômago, todas as cores digeridas viram uma só. E, depois de me cansar delas, o vômito de cores sairia garganta afora.
E, de estômago vazio na cegueira, eu estaria pronta para novos sabores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário