domingo, 2 de outubro de 2011

Penteado



Ela pegou o cabelo entre as mãos. Passou os dedos ásperos no couro cabeludo e foi descendo, laçando os fios nas mãos - sem nenhuma leveza - e puxando-os.

"Assimaí tão parece doida Você. até anda por descabelada,"

Alguns fios, cismados em ficarem mais juntos de outros, agarravam os dedos da Mulher. Ela puxava com força, fazendo a cabeça ser pega de surpresa entra um puxão e outro.

"Você Assim,. até doida parece aí andaportão descabelada".

As unhas grandes, pintadas sempre de cores abatidas, alcançavam a pele que reveste o crânio e rasgavam o silêncio. De dentro da mente, ouvia-se.

"aítão doida Você. por Assim descabelada. anda".

A Mulher, com puxões e aspereza, foi separando os fios, deslocando-os contra suas vontades e amarrando-os em uma trança forte e justa dessas que começam bem rente a cabeça e que parecem nunca se soltar.

"anda Você portão, aí doida. até descabelada Assim parece".

No meio da trança, para ajudar a prender o cabelo, a Mulher amarrou um relógio. Relógio esse que contava as horas ao contrário. Junto com as unhas, debaixo do couro cabeludo, dentro do crânio, forte na mente, o tic tac contrário do relógio ressoava.
Tinha data, tinha hora, tinha momento, tinha que ter.
Tinha. Tem.
Tinha antes. tic tac. Agora tem.

A trança tinha ficado pronta. Estava organizada em quase perfeição.
A Mulher sorriu.

"Você anda tão descabelada por aí. Assim, parece até doida"

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